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Publicado em: 05/05/2023

Corbélia foi o primeiro município a criar um núcleo descentralizado do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Oeste do Paraná (Cisop), dentre 25 cidades que compõem o coletivo. A iniciativa surgiu da necessidade de diminuir o fluxo diário de pacientes que precisavam se dirigir a Cascavel-PR, município sede do consórcio, para buscar atendimento especializado. Foi também o meio encontrado para reduzir as filas de espera por procedimentos como cirurgias, que em alguns casos se estendia pelo período de 3 a 10 anos.


O projeto começou a partir de um levantamento realizado pela gestão municipal, que consistiu na busca ativa dos moradores para a realização do cadastro das famílias no sistema eletrônico. Com base nas informações, foi possível realizar a estratificação das filas de espera e perceber as reais necessidades dos moradores. Todos os dias, em média 80 a 100 moradores de Corbélia eram encaminhados para Cascavel para tratamento especializado, percorrendo uma distância de mais de 70 km ida e volta.


Além do esforço com o deslocamento, dos custos da gestão com os transportes, muitas das necessidades da população não eram atendidas por conta da descontinuidade do cuidado. Tomemos o exemplo das cirurgias de ortopedia. “Em alguns casos, o paciente precisava ir três ou quatro vezes a Cascavel para uma consulta com o ortopedista. Isto demandava transporte, desgaste para o paciente e não resolutividade. Ele ia para a fila da cirurgia e, como não era chamado, tinha que retornar ao especialista para continuar sendo acompanhado”, conta a diretora de Saúde do município, a enfermeira Vilma Mittman Leão.  


A partir de 2019, o cenário foi se modificando radicalmente. A gestão municipal de saúde de Corbélia se propôs a sediar o projeto piloto que inauguraria o primeiro núcleo do Cisop fora de Cascavel, atendendo a microrregião composta por cinco municípios. Dentre as contribuições de Corbélia, foi disponibilizado o espaço físico para a instalação do ambulatório de especialidades e os primeiros serviços oferecidos foram os de maior demanda da população local - ortopedista, otorrinolaringologista e vascular. “A gente entendeu que, estando aqui, era vantajoso para nós e para os outros municípios, que não precisam fazer um deslocamento maior até Cascavel”, afirma a secretária municipal de Saúde, Cleide Teresinha dos Santos.


Uma decisão fundamental do núcleo de Corbélia do Cisop foi evitar que as pessoas voltassem a esperar por atendimento em filas intermináveis. Um dos critérios para admitir ortopedistas, por exemplo, era a habilidade para a realização de procedimento cirúrgico, que passou a ser realizado em um hospital conveniado no próprio município. No primeiro momento, os profissionais contratados foram: dois ortopedistas, dois cirurgiões gerais, dois anestesistas, um otorrinolaringologista, uma ginocologista, um oftamologista, uma pediatra e um psiquiatra.


A descentralização do consórcio também possibilitou o fortalecimento do vínculo dos pacientes com os profissionais que integram as Equipes de Saúde da Família. Além de realizarem o atendimento especializado, profissionais do Cisop de áreas como pediatria e psiquiatria fazem o matriciamento do trabalho na Atenção Básica, orientando as equipes no cuidado dos pacientes nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Por meio do consórcio, também passaram a atuar no município uma equipe multiprofissional composta por psicólogo, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e terapeuta ocupacional. Corbélia tem seis UBS e uma população de aproximadamente 17 mil habitantes.


O fim das filas


Com a chegada do núcleo do Consórcio em Corbélia, acabaram-se as filas de espera para especialidades cuja demanda era altíssima. Agora, os deslocamentos para Cascavel só acontecem para atendimentos em algumas especialidades, como cardiologia e endocrinologia, e procedimentos de alta complexidade. Em Corbélia, a população tem acesso a exames laboratoriais, de ultrassom, raio x, dessintometria óssea, tomografia, dentre outros.  


Manoel José de Souza precisava fazer uma cirurgia na mão e entrou na fila em 2007. Segundo sua filha, Marli do Carmo de Souza, ele aguardou via central de leitos e após alguns anos de espera, recorreu à Justiça para ter o direito assegurado. Passados mais alguns anos e novas avaliações, ele continuava na fila. Foram 14 anos de espera. “Quando chegou um ortopedista em Corbélia para atender os municípios, meu pai foi agendado e tudo transcorreu muito rápido. Em 2021 ele consultou, fez os exames e logo fez a cirurgia, que foi um sucesso. Agora está super bem”, afirma a filha.


O Consórcio Intermunicipal de Saúde do Oeste do Paraná é formado por 25 municípios da Região, que dividem as despesas com manutenção e com os custos dos procedimentos, de acordo com os serviços solicitados. As decisões são tomadas coletivamente e todos os profissionais são contratados pelo consórcio. Cada município tem uma cota máxima de consultas e procedimentos que varia de acordo com a densidade populacional. A regulação das filas de espera é responsabilidade dos municípios. No caso de Corbélia, quem regula a demanda são as UBS.


A partir da experiência de Corbélia, oito novos núcleos descentralizados estão sendo implementados pelo consórcio.


Reportagem disponível em: https://portal.conasems.org.br/brasil-aqui-tem-sus/reportagens-especiais/76_nucleo-descentralizado-de-consorcio-intermunicipal-zera-fila-de-espera-em-corbelia-pr

Núcleo descentralizado de Consórcio Intermunicipal zera fila de espera em Corbélia-PR
Última atualização: 02/05/2024 11:22:21